De onde surgiu a ideia de "digital influencer"? Me pergunto isso toda vez que aparece na tela do celular, uma figura exótica se autoproclamando como tal. É como se o bobo da corte tivesse renascido na era digital, entretendo as massas hipnotizadas pelas idiotices cibernéticas, em vez dos nobres. Mas, sinceramente, de onde veio essa atividade que se alastra de forma até preocupante?
Não quero nem entrar no mérito da miséria social, que leva muitos a verem nessa atividade, uma tábua de salvação. O que realmente me espanta é a hiper valorização desse ofício em detrimento dos conhecimentos formalmente adquiridos. A evasão escolar cresce, e parece que o descrédito pela educação se difunde rapidamente quando figuras sem o mínimo de escolaridade atingem notoriedade nas redes sociais e sobressaem os conteúdos de conhecimentos necessários.
Vamos deixar de lado as grandes mídias e focar no que está mais próximo de nós, para entender como isso acontece. Jequié, cidade de tantos artistas, agora vê surgir especialistas das coisas mais inimagináveis. De conselheiros amorosos à gurus de moda, alimentação, viagens e até fuxicos. E há ainda os que vendem apenas o próprio corpo. Quando um adulto faz isso, já é deprimente. Quando são menores de idade, usando plataformas que deveriam restringir seu acesso, a situação é ainda mais alarmante.
Ainda é cedo para a história julgar os danos causados por essa onda de "influencers digitais". Mas, é claro que pessoas emergem do anonimato para ganhar uma notoriedade absurda exibindo vidas vazias de conteúdo proveitoso. A banalidade com que se acumulam milhões de espectadores para assistir a uma bunda suada é espantosa. Nada contra as bundas, que podem ser lindas, obviamente. Mas se isso é o máximo que oferecemos, o que restará para aqueles que se dedicaram a aprimorar uma arte ou a seguir estudos acadêmicos?
A figura do professor torna-se cada vez mais a imagem daquilo que ninguém quer ser. Os nerds, antes ridicularizados, agora são quase insultados simplesmente por serem inteligentes. No mundo das "trends", não há mais espaço para a verdadeira sabedoria e conhecimento.
E para piorar, vemos políticos interessados em financiar essa prática aos desocupados. Se nossos líderes apoiam isso, é porque algo muito grave está acontecendo. Estamos adestrando o nosso povo para ser marionete digital, afundando nosso futuro num mar de likes ao nada, ao vazio, ao sem sentido moral ou acadêmico. Cada vez que rolamos o dedo para ver a próxima tragédia anunciada, enterramos um pouco mais nossa esperança de progresso real.
É lamentável e deprimente como essa situação se desenrola. A busca por notoriedade instantânea tem nos levado a idolatrar o vazio, aplaudindo aqueles que nada têm a oferecer além de uma fachada cuidadosamente curada. A verdadeira influência deveria ser medida pelo impacto positivo e duradouro na sociedade, não pela capacidade de gerar likes e views.
Sem falar das empresas que adotam a moçada do "digital influencer" para representar suas marcas e produtos, que produzem horrores em piadas sem risos ou cópia de outros materiais da rede, em detrimento da contratação de mão de obra profissional para a manutenção ou construção da sua imagem e marca junto aos seus consumidores.
Essa empresas parecem esquecer que os horrores produzidos representam a sua imagem, entendimento e solidificação do seu negócio, em linguagem, imagem, roteiro (sem), direção e finalização. A empresa passar a ser vista por aquilo que os “digitais influencers” produzem.
Até mesmo a prefeitura de Jequié caiu nesse embalo. Desfile de moda com algumas aparições das obras públicas, sendo o maior espaço ocupado pelo sorriso largo e voz estridente.
Seremos capazes de reverter esse cenário ou continuaremos a ser espectadores passivos de nossa própria decadência cultural?
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