Ao anunciar a intenção de promover quatro dias de festa para celebrar o Dia do Evangélico, utilizando recursos públicos, o prefeito de Jequié parece reduzir o sentido do evangelho a um mero espetáculo. A proposta soa mais como uma tentativa de remendar insatisfações políticas, como as críticas às atrações da Marcha para Jesus, do que uma compreensão autêntica do que significa seguir a Cristo. Ser evangélico é trilhar o Caminho com fé, simplicidade e compromisso com a verdade do Evangelho, e não se deixar levar pela lógica do entretenimento financiado pelo erário.
Buscar Jesus vai muito além de subir em trios elétricos ou organizar shows: é uma jornada diária de transformação interior. O verdadeiro propósito do cristão protestante não é animar multidões com holofotes e palcos, mas viver o amor de Cristo em silêncio, servir ao próximo com humildade e anunciar a boa nova com o próprio testemunho. O caráter de Cristo é forjado na vida íntima, na dedicação ao estudo da Palavra, na prática da justiça, e não em festividades de ocasião com ares de barganha política.
E é nesse cenário confuso, onde o sagrado se mistura com o profano, que vemos a fé sendo transformada em espetáculo, em produto de palco, em estratégia política. Mas o Senhor já havia nos advertido por meio do profeta Isaías:
“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. E o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” (Isaías 29:13).
Não se trata de sermos contra festas, música ou encontros — trata-se de quem está sendo adorado, como está sendo adorado e por que está sendo adorado. Deus não se agrada de barulho vazio nem de sacrifícios que não vêm acompanhados de obediência. Ele mesmo disse:
“Porque misericórdia quero, e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” (Oséias 6:6).
Temos nos contentado com movimentos, mas sem mudança. Com marchas, mas sem arrependimento. Com palcos iluminados, mas corações apagados. Com eventos multitudinários, mas sem frutos do Espírito.
A Palavra é clara: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o Senhor” (Jeremias 23:1).
Aos líderes que se levantam com ambições políticas ou pessoais, esquecendo-se de que o ministério é serviço e renúncia, a Escritura adverte:
“O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas e foge...” (João 10:11-12).
É tempo de vigilância, de separação, de santificação. Não é hora de se misturar com os padrões do mundo para “parecer relevante”. A verdadeira relevância está em viver o Evangelho puro, em pregar a verdade ainda que doa, em proteger o rebanho dos lobos vestidos de ovelhas.
Como Paulo disse a Timóteo, esse é o chamado:
“Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, redargui, repreende, exorta, com toda longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina... e se voltarão às fábulas” (2 Timóteo 4:2-4).
E esse tempo chegou.
Que o verdadeiro povo de Deus se levante, não com tambores e carros de som, mas com vida santa, com palavra reta, com fé firmada na Rocha. Que a nossa marcha não seja apenas por ruas e praças, mas na contramão do sistema corrompido, com os olhos fitos em Jesus, o autor e consumador da fé (Hebreus 12:2).
Pois no fim, “os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (João 4:23).
E esses, Ele conhece.
O resto, é barulho.
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