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Quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Bahia/Editorial

INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE FESTA SÃO JOÃO S.A.

A festa popular que foi transformada em usina de decibéis genéricos onde toca qualquer ritmo, menos o autêntico.

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Divulgação
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Lá se foi o velho São João, aquele do triângulo, zabumba e sanfona que fazia o chão de terra bater no compasso do forró pé-de-serra. Em seu lugar, apareceu uma usina de decibéis genéricos onde toca qualquer ritmo, menos o autêntico, encontra palco, cachê estratosférico e holofote estatal. A festa que deveria celebrar a cultura nordestina virou um grande “open bar” de estilos copy-paste.

Mas não é só de desafinação histórica que vive o arraial. A nova dança é a da catraca: ingressos evaporam nos pontos de venda oficiais e, como num passe de mágica, ressurgem nas redes sociais, multiplicados pelo encanto da especulação. Quem vende? Sempre a mesma galera, rostos simpáticos, parentes de vereador, apadrinhados do “sabe-com-quem-está-falando?”. Os cambistas de estimação são tão onipresentes quanto as bandeirolas, só que lucram mais.

E o que dizer dos camarotes? Aqueles caixotes climatizados, repletos de whisky, sushi e som alternativo, plantados bem no meio do terreiro. Para entrar, basta desembolsar o preço de um salário-mínimo, de preferência nas mãos de um atravessador certificado pelo brasão oficial dos poderes. Enquanto isso, o povo do chão, que paga a conta com impostos, fica espremido entre grades e poeira, no já conhecido “miolo do cão

Inclusão? Só se for no discurso institucional. Cadeirantes não têm espaço digno, autistas não têm área sensorial, e o acesso universal some no meio da fumarada das barracas gourmets. Se a própria musicalidade da festa foi descartada, por que alguém se preocuparia com acessibilidade? Afinal, São João agora virou negócio, não celebração.

No fim, resta a impressão de que Jequié financia, decora e aplaude a festa dos outros. Do arranjo das bandeirolas à instalação dos camarotes, tudo soa como um grande ato de prestidigitação: tiram dinheiro do povo, devolvem confete, e ainda cobram ingresso. O São João, que sempre foi do interior do peito, virou vitrine de poder, balcão de favores e barulho caro para turista ver. E nós, cúmplices pagantes, dançamos fora do compasso, esperando que um dia o forró volte a tocar onde nasceu

FONTE/CRÉDITOS: TV Jequié
Comentários:
Israel Ferssant

Publicado por:

Israel Ferssant

Israel Ferssant é Teólogo, Cineasta, Jornalista, com MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, Pós-graduando em Serviço Social, às vezes poeta, músico, educador.

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