A controvérsia em torno do uso do celular em sala de aula não é nova, mas adquiriu contornos ainda mais acentuados com a ascensão das redes sociais e a crescente dependência desse dispositivo. O que o torna um tema tão polêmico? Antes dos smartphones, o walkman já foi proibido nas escolas, assim como a leitura de livros alheios ao conteúdo da aula. Tudo o que não se alinha diretamente ao processo pedagógico é visto como um elemento estranho, uma distração indesejada. Mas a questão aqui é mais profunda: o celular não é apenas um aparelho, mas uma porta para um universo de possibilidades que disputa, sem piedade, a atenção do aluno.
O impacto das redes sociais e dos dispositivos móveis na aprendizagem e na saúde mental dos jovens é notório. Não é coincidência que, na última década, tenhamos observado um aumento nos casos de ansiedade, dificuldades de concentração e uma redução na capacidade de leitura crítica. O simples ato de ler um artigo de opinião tornou-se um desafio para muitos estudantes, que estão cada vez mais imersos em conteúdos rápidos e fragmentados. O imediatismo das telas moldou uma geração habituada ao consumo rápido de informações, mas incapaz de sustentar o esforço intelectual necessário para uma reflexão mais aprofundada.
As escolas, muitas vezes, reagiram de maneira impulsiva, proibindo o uso dos celulares sem antes estabelecer um programa de conscientização adequado. O resultado foi um choque abrupto entre um mundo digital onipresente e um ambiente acadêmico que ainda não encontrou formas eficazes de lidar com essa realidade. A proibição pura e simples não resolve o problema, apenas cria um embate entre alunos e educadores. Como ignorar a presença de um dispositivo que já se tornou essencial na vida contemporânea? O ideal seria um processo gradativo, um projeto pedagógico estruturado que ensinasse o uso consciente e crítico da tecnologia.
O TikTok, por exemplo, tornou-se um verdadeiro mercado de comportamentos, onde influenciadores ditam modas, crenças e atitudes. O que se vende lá não é apenas um produto, mas um estilo de vida. O que atrai não é apenas o conteúdo, mas o formato acelerado, envolvente e viciante. Nesse embate, o professor parece cada vez mais desinteressante diante do brilho artificial das telas.
Mas seria hipocrisia tratar os jovens como os únicos vítimas dessa dependência. Os adultos também estão imersos nessa mesma realidade, pregando limites aos filhos enquanto passam horas conectados. Essa contradição gera resistência entre os jovens: "Se meus pais não largam o celular, por que eu deveria?" Para piorar, muitas escolas que proíbem o uso dos celulares também exigem que os alunos consultem plataformas digitais para atividades acadêmicas, criando um paradoxo.
O grande problema é que, até o momento, o celular foi tratado apenas como um recurso, e não como um objeto de aprendizagem integrado ao ensino. O desafio não é eliminar sua presença, mas ressignificá-la. Como construir um modelo educacional que concilie tecnologia e conhecimento? Como tornar a escola um espaço onde o digital não seja um inimigo, mas uma ferramenta poderosa para o aprendizado?
A resposta passa por um processo de educação digital consistente, um letramento tecnológico que ensine os alunos a navegar nesse universo sem se perder. A proibição isolada é símbolo de um fracasso pedagógico. O caminho, como sempre, é o conhecimento.
Por
Israel Ferssant
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