SECA E QUENTURA
Eram tempos de seca e quentura,
Quando vi meu sertão São Tomé,
E na escura lagoa, sem saracura,
Fui rezar pra colher meu café.
Eram tempos da velha ditadura,
Mas eu tinha somente onze anos,
E nas estradas vendi rapaduras,
Pra ajudar meus tios e hermanos.
Vinham da mata, cavalo e tropeiro,
Em contraste com a nau catingueira,
Pelo rio seco com um só juazeiro,
Naquela procura da fé brasileira.
Eu, criança magrela, queria alegria,
Pois tudo que via era para brincar,
Então, caçava os lagartos de dia,
E ouvia boas estórias sob o luar.
Por ali vinham os velhos e tios,
Contando as aventuras do cangaço,
Como lágrimas que enchem os rios,
Pois lá no sertão é bode no laço.
Em toda manhã se ordenha a cabra,
Enquanto recolhem ovos da conquém,
Pois tudo ajuda e nada se acaba,
Se aquele lugar é perto do Cem.
Era esse o modo de gravar lugares,
Porque tudo dista da cidade grande,
E pobres viajantes viram malabares,
Ganhando trocados pra ir adiante.
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