Brincadeira, confete, dança, e irreverência são os principais ingredientes dessa deliciosa criação brasileira; a marchinha de Carnaval. Músicas curtas e de poucos versos com melodias simplórias e fáceis de decorar, feitas para cantar e dançar na rua.
As marchinhas foram ao longo das décadas, foi um vibrante veículo democrático de expressão popular, criticando, debochando e castigando os moralistas e poderosos com o riso das multidões.
Gênios populares como Ary Barroso, Noel Rosa e Braguinha criaram obras-primas da irreverência, do duplo sentido e da malícia, driblando censores e produzindo um repertório extraordinário, que comentava com humor as novidades do momento e criticava os personagens e acontecimentos da nossa história. Mas, o tempo e a moda atropelaram as marchinhas, surgindo um novo estilo musical que vem dominando o cenário musical e o Carnaval.
No último carnaval da Bahia, a música de Léo Santana intitulada Zona de Perigo, foi o “grande hit” que venceu como música do carnaval, e o que essa canção nos traz? Com uma instrumentalização medíocre, e um vocal ainda mais limitado, isso já seria suficiente para desqualifica-la em um simples concurso de calouro, mas, o absurdo vai ainda mais longe. Com uma letra absolutamente cretina, mas que nos dá a real dimensão da estupidez que reina no mercado consumidor da música popular.
O número gigantesco de fãs apatetados que reproduzem dancinhas igualmente sem sentido nas redes sociais é assustador, o que nos leva a uma reflexão da intencionalidade por trás dessa subcultura. A indústria da música descartável, boba e infantilizada vem tomando proporções irreversível em nossa sociedade. Não existe logica para o discurso de que “eles cantam a realidade das periferias”, basta recordar qualquer uma das canções do mestre Cartola, que fica nítido que o que falta nessa geração de músicos é o puro e simples talento.
Como afirmava Platão em A Republica, “conheça um estado pela música que é dada ao povo”. Música é padrão vibratório. Para o filosofo, a música é elemento fundamental da educação. Entendendo evolução como a depuração do gosto, é possível afirmar que passamos por um retrocesso musical, cultural, intelectual, e estabeleceu-se a era das inversões de valores, a era dos absurdos. E por mais que acumulem rios de dinheiro com essas produções pavorosas, sabemos que nada substitui o talento. “Quanto a você da aristocracia, que tem dinheiro, mas não compra alegria, há de viver eternamente sendo escrava dessa gente que cultiva a hipocrisia” Noel Rosa.
FONTE/CRÉDITOS: Israel Ferssant
O texto acima expressa a visão de quem o escreveu, não necessariamente a da Tv Jequié
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